PSEUDOPRENHEZ NAS CADELAS

Este fenômeno freqüente em cadelas, também denominado Falsa Prenhez ou Gestação Imaginária ou nervosa, caracteriza-se por aumento de volume das mamas e mesmo secreção láctea durante a fase do ciclo biológico sexual denominada Metaestro, fase essa do ciclo sexual em que o corpo lúteo (também denominado corpo amarelo) resultante da evolução do local onde foi expelido um óvulo está atuante, produzindo o hormônio progesterona. É portanto essa anormalidade do ciclo sexual nas cadelas uma manifestação puramente luteínica, em que o trato genital e principalmente mamas e útero sofrem efeitos do hormônio progestacional.

Para a boa compreensão dessa anormalidade nas cadelas, é necessário antes serem expostas as diferentes fases por que passa o organismo dessas fêmeas assim como todas aquelas mamíferas em geral, desde a puberdade até atingirem a maturidade sexual e estarem capacitadas para a procriação. Um ciclo sexual normal numa fêmea mamífera, também denominado Ciclo Estral, para efeito didático é dividido em diferentes fases, denominadas sucessivamente por: Proestro, Estro, Metaestro e Anestro. Cada uma dessas fases são perfeitamente individualizas uma das outras e caracterizam-se cada uma pelos seguintes sinais:

1 - PROESTRO - Inicia-se na puberdade, que ocorre nas cadelas em torno de um ano de idade, por aumento progressivo de volume da vulva, que pode atingir quase o dobro de seu tamanho habitual nessa fase. Sua mucosa torna-se mais avermelhada, e também mais lubrificada e úmida .

2 - ESTRO - É o período em que a fêmea aceita o macho e se deixa acasalar, tendo duração em torno de 9 a 12 dias nas cadelas. No início dessa fase ocorre a conhecida perda de sangue pela vagina, resultante do aumento da vascularização do próprio útero, que sob efeito do hormônio gonadotrófico secretato pela glândula hipófise está espessado e pronto para receber o óvulo quando fecundado, que nessa mucosa virá se aninhar, para assim poder receber os nutrientes necessários para se desenvolver e dar origem primeiro ao embrião, depois ao feto e por último ao filhote gerado. A ovulação, ou seja, rompimento do folículo ovariano pelo óvulo e sua subsequente progressão pela Trompa de Falópio e em seguida pelo corno ovariano ocorre durante essa fase, em geral no segundo dia do seu início, com duração média de 20 horas. Leva de 6 a 10 dias para esse mesmo óvulo quando fecundado já no corno uterino venha se aninhar no seio da mucosa uterina, ali se desenvolvendo por multiplicação celular e dando origem ao embrião, feto e seus anexos (placenta). É essa portanto a fase mais importante de todo o ciclo Estral, pois é nela que ocorre propriamente a fecundação do óvulo ou óvulos por diferentes espermatozoides ali depositados pelo macho no ato do acasalamento, e dela resultando quando tudo transcorreu normal, numa gravidez também normal e produtiva.

3 - METAESTRO - É a fase em que ocorre propriamente a gestação quando ocorreu fecundação, tudo comandado por efeito a distância de determinados hormônios secretados pela glândula hipófise, denominados fatores luteinizantes. Referidos hormônios secretados e depositados na circulação pela hipófise promovem a evolução do local dos ovários onde ocorreu ruptura e liberação de óvulos, em um verdadeiro calo de coloração amarela, e por isso denominado corpo lúteo, que passa a secretar o hormônio luteina. Referido hormônio também denominado Progesterona é o responsável entre outras coisas pelo desenvolvimento das mamas, nestas determinando o aumento de seus ácinos que mais tarde sob efeito do hormônio denominado Prolactina, este secretado também pela hipófise , terá sua secreção de leite iniciada e continuada.

4 - ANESTRO - É a fase do ciclo sexual em que esses mesmos órgãos estão adormecidos e se recuperando das fases anteriores, ou sucedendo a uma prenhez ou se preparando para futura gestação. No caso das cadelas que são consideradas monoéstricas, com dois ciclos por ano, ocorrendo o primeiro em torno dos seis a 9 meses de idade para algumas raças, ou entre 6 e 12 para outras raças, nessa fase a mucosa vaginal mostra-se de coloração rósea pálida e úmida, e o tamanho da própria vulva regride ao seu volume normal.

Conhecidas essas diferentes e sucessivas fases do ciclo sexual normal, a anormalidade conhecida por título e objeto deste texto, ou seja: Pseudociese das cadelas, fica mais fácil seu entendimento sob o ponto de vista hormonal.

Alguns autores consideram mesmo essa anormalidade do ciclo sexual como normal nas cadelas, sendo apenas uma intensificação das modificações produzidas durante a fase do Metaestro. A fisiologia no fenômeno é no entretanto ainda desconhecida, uma vez que a cadela está sempre em pseudoprenhez durante essa fase, já que o corpo lúteo normalmente persiste por 3 a 5 semanas quer tenha a cadela sido ou não fecundada e se tornado gestante durante o Estro. Ocorre mais freqüentemente em raças de porte pequeno, e em geral durante o período em que estariam amamentando caso tivessem sido fecundadas, o que não ocorreu e elas continuam a agir como se tudo tivesse transcorrido num ciclo gestacional. Algumas cadelas chegam a agir e demonstrar sinais de inquietação durante a fase presumida de um possível parto, só que não tendo havido fecundação nem gestação, não existem filhotes por nascer, porém elas chegam mesmo a terem as contrações que teriam caso estivessem em trabalho de parto. Chegam algumas fêmeas a terem seus ventres aumentados de volume sem no entretanto existir um útero contendo fetos.

Clinicamente, além do aumento de volume das glândulas mamarias e secreção láctea, produzindo desconforto do animal, observam-se modificações do comportamento da fêmea, que se torna nervosa, irritadiça, com extinto de maternidade, havendo mesmo relaxamento dos ligamentos da bacia, temperatura corpórea anormal (em geral quando ocorre é sub-normal), e mesmo movimentos de contração uterina para expulsão de inexistentes fetos. Em muitos casos, tendo havido cobertura do animal em sua fase de Estro, o próprio proprietário do animal fica na expectativa de que sua cadela está para parir, chegando a tomar medidas preventivas para o evento. Um profissional veterinário chamado nessas ocasiões, realizando a palpação abdominal e mesmo em alguns casos até uma radiografia terá dificuldade em convencer ao proprietário do animal de que sua cadela não está para parir, sendo apenas mais uma cadela com essa Gravidez imaginária.

Segundo Smith, as cadelas portadoras desse fenômeno apresentam recidivas e estão predispostas à hiperplasia do endométrio e piometra, que são doenças graves consideradas como evolução da própria pseudociese.

Os sintomas dessa doença, pois sem dúvida trata-se de uma anormalidade do próprio ciclo gestacional, em geral regridem após duas ou três semanas. Quando não, a administração de hormônio Metil-testosterona, por via oral, na dose de 0,5 mg por quilo de peso do animal, durante seis a dez dias, ou então Propionato de Testosterona na dose de 25-30 mg intra venosa levam a cura. É importante, no entretanto, a correta época para administração desses hormônios sintéticos, sob pena de insucesso.


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