SOBRE PARTO

O parto para qualquer animal é um ato natural, representando o término de uma gestação. Se esta teve seu transcurso normal, o parto também deverá transcorrer normal, a não ser que os fetos sejam excessivamente grandes, ou por outro lado: excessivamente pequena a própria cadela mãe, havendo portanto desproporção entre os tamanhos dos fetos e essas vias uterinas utilizadas para a saída dos filhotes. O tamanho da bacia da cadela, formada pelos ossos Ileo, isquio e pubis, é o principal fator a ser considerado para essa saída normal dos fetos no momento do parto e determinantes de seu transcurso. Uma bacia pequena em relação ao tamanho dos fetos, denominada angústia pélvica, com fetos maiores que essa via natural da fêmea, quase sempre determina um parto anormal - denominado de distócico - obrigando o veterinário parteiro a realização de interferência cirúrgica.

Estas constatações anatômicas devem ser avaliadas criteriosamente pelo veterinário por ocasião do pré-natal . Devemos nós, tanto profissionais veterinários quanto os próprios criadores e proprietários de animais, interpretarmos esses fenômenos naturais, como o são a própria concepção, gestação e parto, como uma sucessão de acontecimentos interligados a própria vida, que na natureza acontecem muitas vezes sequer sem nosso conhecimento e participação. Já os animais criados no ambiente doméstico, e por isso sujeitos à nossa nociva influência sob o ponto de vista natural, muitas vezes é a causa dos problemas que podem ocorrer em seu transcurso, embora nossa intenção seja a melhor possível.

Por isso, a recomendação que devo lhe fazer aos proprietários de cães ou criadores, é que não alterem a rotina que vinham mantendo com seus animais agora gestantes, unicamente pelo fato de encontrarem-se agora nesse estado. Deixe-as continuar sua rotina diária, inclusive com exercícios como o são o de andar, correr e mesmo pular. Apenas a alimentação dos animais gestantes merece especial cuidado: continuar sendo dada a ração que a mesma está acostumada, porém, agora fracionada em mais vezes por dia, e aumentando (sem exagero), paulatinamente a quantidade total do dia, devido o fato da gestante para bem gerar seus futuros filhos necessitar de maior quantidade de nutrientes, e de boa qualidade. Caso as vacinas contra: Cinomose-Hepatite-Leptospirose-Parvovirose e Coronavirose tenham sido ministradas há mais de um ano, faz-se necessária sua repetição pelo menos até 30 dias antes da data prevista para o parto. Quando o momento para o parto estiver próximo, e será facilmente visível pelo próprio aumento de volume da fêmea gestante, além de concomitante desenvolvimento das mamas e mesmo estado geral de engorda do próprio animal, será notado que seu andar fica diferente: mais lento e cuidadoso além dela mesma se tornar mais sonolenta e preguiçosa. Agora chegado o momento realmente do parto, a fêmea demonstrará inquietação, micções freqüentes, procurando lugares mais calmos e mesmo escuros, muitas vezes carregando para onde estiver roupas que tenha a seu alcance como se estivesse fazendo o próprio ninho para suas crias.

No próprio dia do parto, em geral a gestante rejeita a alimentação, não chegando sequer a cheirar o próprio alimento que lhe seja servido. Já água a mesma procurará insistentemente. Chegada a hora, serão notados movimentos abdominais semelhantes aqueles que a própria fêmea executa para evacuar, movimentos esses com pouca freqüência e distanciados uns dos outros, que a medida que o tempo passa, vão se repetindo com menor intervalo de tempo, até a sucederem-se quase que em seguida uns dos outros. Deverá aparecer pela abertura da vagina, que estará simultaneamente aumentada de volume e congesta, um corrimento seroso resultante da ruptura da chamada bolsa das águas, ou mesmo o aparecimento dessa bolsa pela abertura natural. Nesse caso, com uma tesoura, deverá tal bolsa ser rompida com um ligeiro talho, escorrendo então essa secreção natural. Logo em seguida deverá aparecer o primeiro feto, tanto faz que sua apresentação seja anterior (com a cabeça em primeiro lugar), ou posterior (com as pernas traseiras em primeiro lugar), e logo em seguida sua expulsão com uma contração mais forte executada cadela. Em seguida ao feto sairá a placenta correspondente, tendo o cordão umbilical ligado ao umbigo do feto. Em geral a própria cadela, com os dentes, rompe esse cordão umbilical, e caso isso não for feito pela parturiente, deverá quem estiver assistindo ao parto, assim proceder com uma tesoura previamente desinfetada, conservando apenas cerca de 2 a 3 cm desse cordão umbilical. Em seguida, também proceder a ligadura desse cordão, com um fio de linha grossa, distante cerca de um centímetro do ventre do filhote. Desinfeção do chamado coto (ou seja o pedaço de cordão umbilical) conservado, com tintura de Iodo ou Mertiolate também é recomendável.

Entre o início das contrações abdominais até o término do parto, com a expulsão de todos os filhotes gerados, muitas vezes transcorrem até uma ou mais horas, o que não deve ser motivo de aflição de quem estiver assistindo ao parto. Desde que o estado da cadela parturiente seja normal, não há necessidade de maior cuidado: apenas vigilância para auxílio, caso necessário. Apenas na hipótese de serem influtíferas as contrações, sem o aparecimento de nenhum feto pela abertura natural da cadela, será razão para procura do profissional competente para as medidas que se fizerem necessárias, porém, isso seria exceção a regra. Nesse caso então, o tocólogo: como é chamado o veterinário parteiro, é quem deve decidir o que deve ser feito.

P.S. - Apenas como observação final: As placentas que acompanham os respectivos fetos recém nascidos, muitas vezes são comidas pela própria fêmea parturiente. Tal fato, embora à muitas pessoas possa causar nojo, é um fato perfeitamente natural, não devendo ser por nós evitado, pois irá auxiliar a chamada descida do leite da parturiente, necessário a alimentação de sua ninhada.

P.S.- Inspeção de cada filhote recém nascido, para verificação de seu estado assim como imperfeições que necessitem cuidado veterinário, além obviamente, de assistência para sua amamentação nos primeiros momentos, colocando-os diretamente nas mamas da cadela, previamente deitada em local calmo e adequado. Na hipótese de se tratar de animais em que seja usual o corte de cauda, esta deverá ser providenciada após três dias do nascimento e até 7 dias, portanto na primeira semana de vida. Igualmente no caso de nascerem os filhotes com o chamado Ergot (Unha ou dedo de lobo), constituídos por dedos ou unhas supranumerárias mais freqüentemente nos membros posteriores, estes deverão também ser extirpados pelo veterinário, na primeira semana de vida. Tais Ergots, assim chamados pelos Franceses, são resquícios do quinto dedo, hoje atrofiados por falta de uso e não mais presentes nesses membros dos cães domésticos.


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